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Homilia de dom Geremias Steinmetz na peregrinação do Decanato Norte • 22 de fevereiro

“Não é por acaso que a peregrinação representa um elemento fundamental de todo o evento jubilar. Pôr-se a caminho é típico de quem anda à procura do sentido da vida. A peregrinação a pé favorece muito a redescoberta do valor do silêncio, do esforço, da essencialidade” (Spes non confundit, 5).

Hoje estamos aqui para celebrarmos o Jubileu da Esperança com as comunidades do Decanato Norte da Arquidiocese de Londrina. Sejam todos bem vindos a esta celebração. Já ouvimos bastante coisas a respeito do Jubileu, mas convém aproveitar também a Palavra de Deus que acabamos de ouvir na Liturgia desta tarde para tornar a percepção sobre este evento ainda mais realista.

A Primeira Leitura, retirada de Isaias 61, mostra palavras com as quais Jesus anunciou que a era messiânica havia chegado. Originalmente elas se referiam a um dos líderes da primitiva escola pós exílica de Isaias.

Cada frase é rica na tradição bíblica. Espírito: assinala a ação especial de Deus. O Espírito foi prometido ao rei messiânico e, posteriormente, assegurado a todo o povo messiânico. A palavra “ungiu”, está unida com pregação e audição. Ela designa um esclarecimento para conhecer a Palavra de Deus e um esforço para segui-la. Anunciar a Boa Nova; Liberdade aos cativos, etc. Todas são expressões que nos ajudam a compreender os objetivos que o Papa Francisco quis destacar para este Jubileu. Continua o texto, ainda de maneira muito rica: Porque eu, o Senhor, amo a equidade, e detesto o fruto da rapina (8). Sua raça se tornará célebre entre as nações, e sua descendência entre os povos: todos, vendo-os, reconhecerão que são a abençoada raça do Senhor (9). “Envolveu-me com o manto de justiça” (10).

A Segunda Leitura, da Carta aos Romanos traz a expressão-lema do Ano Jubilar: “A esperança não decepciona” (5,5). Mostra que o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. A ressurreição do Senhor significa o realismo da nossa Esperança. Acentua a necessidade da reconciliação e também que fomos totalmente reconciliados pela morte do Filho de Deus, Jesus, na cruz.

No evangelho vemos na boca de Jesus as palavras do profeta Isaias que ouvimos na primeira leitura. Mas quero destacar a última frase do Evangelho: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Pois, assim somos chamados a realizar esta Palavra: O Espírito do Senhor está sobre mim: é ele que nos conduz a todos. Conduz também a Igreja.

Na sinagoga de Nazaré, Jesus aplica a Si a proposta do Jubileu (Lc 4,14-21), que, assim, deixa de ser um tempo específico, um chronos, para se tornar um efetivo kayrós, ou seja, uma presença em qualquer tempo e lugar, a do próprio Jesus e do Reino de Deus. O jubileu, para os cristãos, torna-se, na sua dimensão transformadora e salvífica, uma realidade constante e não apenas sazonal. As ocasiões especiais devem servir como implementadoras de processos jubilares, isto é, grandes empurrões para a frente no ininterrupto caminhar cotidiano. Para os cristãos, a vivência cronológica do jubileu deve sempre levar a kayrologicamente vivê-lo a cada dia no discipulado missionário, que anuncia e constrói justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14,17).

Desse modo, a proposta de um Jubileu significa sempre apostar no reinado do Deus revelado por Jesus, no qual resplandece o perdão sem medidas, a misericórdia e a transformação das relações com o próprio Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. Significa um convite para dar sentido à vida, já e ainda não. Significa ajudar as pessoas a ressignificarem sua existência, na perspectiva de uma escatologia que ajude as pessoas a compreenderem o mistério da vida e da morte.

Ao reler o texto do profeta Isaías, Jesus demonstra em que sentido sua encarnação realiza o que outrora fora esperança: ele traz a boa nova aos pobres, proclama a liberdade aos que são prisioneiros, cegos e oprimidos. Na sinagoga, lendo Is 61,1-2, Jesus oferece sua própria interpretação ao omitir de sua leitura o que, em Isaías, acompanhava a proclamação do ano do agrado do Senhor: “o dia da vingança para o nosso Deus” (Is 61,2). Assim revela, em palavras e obras, que a compaixão e a misericórdia de Deus suplantam a vingança e o acerto de contas. Essa é a chave de atualização a partir da qual somos chamados a compreender e viver de modo efetivamente cristão este ano jubilar.

Por isso, a fé nos convida a dar sentido de banquete de confraternização à vida, ao existir, não, porém, um sentido apenas para o que vem depois da morte. Afinal, “o Reino de Deus está no meio de vós!” (Le 17,21). O reinado de Deus, levado à plenitude com a vida e ação histórica de Jesus, já é uma realidade atuante. Está presente em qualquer lugar ou em qualquer pessoa disposta a fazer com que a ação de Jesus continue. Trata-se de uma experiência fundamental, realizada na força do Espírito Santo, e que tem grande potencial de fazer coisas e criaturas completamente novas, em um caminhar que, iniciado nessa vida, conduz à eternidade.

É, portanto, a esperança que nos sustenta e nos move, não, contudo, uma esperança passiva, geradora de inércia, mas aquela que nos mobiliza internamente para que possamos buscar o bem desejado, permanecendo a caminho, mesmo quando esse bem não chega no tempo e no modo como esperado. Uma pessoa sem esperança em geral se torna ranzinza exatamente porque não enxerga além do imediato.

Corre o risco de viver uma experiência religiosa em que predominam o anúncio do mal e do castigo divino. Ao contrário, pela esperança, que é dom e tarefa, que podemos ser alegres em meio a um mundo de sombras, ter confiança na vida apesar do risco de ceticismo e do pessimismo, do imprevisível e do provisório. Uma sociedade em crise de esperança tende a ser alimentadora de individualismos, belicosidades e outras formas resultantes do desconforto por não permitir vislumbrar a superação dos males. Ao contrário, a abertura ao Deus-Amor, vivida na fé, nos leva a viver o amor-ágape, ainda que nem sempre a realidade assim facilite ou permita. Principalmente nesses momentos a esperança é chamada a ser a propulsora da permanência no caminho, até que, na eternidade, fé e esperança cedam lugar ao amor pleno, face a face ao próprio Deus.

Portanto, a nossa esperança, a fé no Mistério Pascal de Jesus Cristo, nos ajude a trabalharmos crendo num mundo novo e crermos no Reino de Deus atuando na história para realizá-lo.

Dom Geremias Steinmetz
Catedral Metropolitana de Londrina, 22 de fevereiro de 2025

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